Cheguei atrasado ao primeiro dia de aula. Fui informado de que só poderia ir para minha sala de aula depois do intervalo. Minha turma seria a 2M5. A Inspetora de alunos me deixou aguardando nos bancos de madeira no corredor onde ficavam localizadas as salas dos professores e a diretoria, mais ao fundo encontravam-se as salas da Secretaria, Biblioteca, Teatro e Musica. Essa última me interessava muito.
 
Na primeira oportunidade que eu tive me dirigi até a sala de música, faltavam dez minutos para tocar o sinal do intervalo. Não estava preocupado por ter perdido as duas primeiras aulas, hoje era um dia apenas de apresentação dos professores, dificilmente iniciariam alguma matéria, e eu particularmente não pretendia ficar sentado no banco para todo mundo que subisse a escada me visse. 

Quando cheguei à sala de música a porta estava apenas encostada. Ao entrar pude perceber que a sala tinha um tamanho considerável, havia instrumentos em cima do palco, bateria, guitarras e violão. Percebi também uns retornos que ficavam na ponta do palco e quatro grandes caixas amplificadoras que estavam posicionadas no entorno da sala. No palco também havia microfones e a frente centenas de cadeiras de plástico posicionadas. Quando tocou o sinal eu fechei a porta, e imediatamente percebi que a sala possuía um ótimo isolamento acústico. Poderia tocar violão até o fim do intervalo sem que ninguém me perturbasse.

Tocar violão para mim era uma forma eficaz de esquecer os problemas, quando ficava sozinho pensava em melodias que poderia criar e letras que poderia escrever. Mesmo que nunca eu tenha tido a pretensão de ser um compositor e dar algumas das minhas musicas para algum artista gravar. Nas letras que escrevia eu poderia descarregar todas as minhas frustrações.

Peguei o violão que estava no palco, era um violão Giannini GF1R Elétrico. Não era um dos melhores, mas para os padrões de uma sala de música de uma escola Estadual estava ótimo. A acústica da sala era perfeita, o som reverberava por todos os cantos. Fiquei tocando por uns dez minutos até que percebi uma presença, alguém me observava. Torcia para que não fosse alguma inspetora da escola, arrumar problemas no primeiro dia de aula causaria um transtorno enorme com meu tio.

Quando me virei para ver quem era, vi uma garota. Era loira de cabelos cumpridos, usava óculos e possuía olhos verdes que olhavam fixamente para mim. Era linda. Provavelmente estava me espionando por estar interessada.

-Quem é você? – Perguntei.

-Meu nome é Beatriz, comecei a estudar aqui hoje e você quem é? O que faz aqui? – Perguntou ela.
-Então... acho que você é muito enxerida em ficar bisbilhotando as pessoas escondida pelos cantos. – Respondi. 

-Eu escutei um som e vim ver quem era. Avisaram-me que a sala de música só vai começar a funcionar na semana que vem. Mas peço desculpas caso tenha incomodado. – Respondeu já me dando as costas para ir embora.

-Não calma, espera ai gatinha. Desculpe se pareci rude. Disse. Ela parou e olhou para mim.

-Tudo bem, eu que bisbilhotei onde não fui chamada. Você tem razão. Desculpe-me. – Respondeu.

- Eu posso desculpar você, basta sair comigo um dia desses. – Disse, enquanto pegava na sua mão.

-Não obrigada, dispenso. Tenho certeza que menina disposta a sair com você não vai faltar, além do mais, você não faz o meu tipo e detesto gente grossa. – Respondeu ela rispidamente e puxando a mão bruscamente saindo andando pelo corredor rumo ao pátio.

Fiquei sem entender, nunca ninguém me deu um fora e me tratou assim de forma tão fria. 

Mas aposto que era uma tática para se fazer de difícil. Eu não era homem de desistir fácil.

- Ei garoto, onde você estava? – Perguntou a inspetora de alunos. Tratei rapidamente em arrumar uma boa desculpa.

-Eu fui procurar o banheiro, mas não encontrei. - Uma boa desculpa já que eu era novo na escola, era natural não saber onde ficavam as coisas.

-Tudo bem, o banheiro fica no pátio. Aqui também tem banheiro ao lado da sala dos professores, mas é de uso exclusivo deles. – e continuou – Vamos, vá para sua sala de aula, o horário de intervalo já terminou.

Quando sai da área onde ficava a administração da escola eu parei em frente à porta que dava para o pátio. Conforme os alunos subiam a escada, todos me olhavam com um ar de curiosidade e certa novidade. Esperei que todos passassem e segui logo atrás. Queria chegar por ultimo na sala de aula e fazer uma grande entrada.

Quando cheguei todos ainda estavam se sentando, ao perceberem que estava na porta um silêncio invadiu o ambiente. Algumas meninas me olhavam com um ar de espanto e surpresa. Um dos rapazes veio falar comigo.

-E ai cara, seja bem vindo. Meu nome é Leonardo, mas pode me chamar de Leo. – informou apertando minha mão.

- Meu nome é Brian, valeu. – respondia apertando a mão dele.

Avistei uma carteira vazia no fim da sala na fileira que ficava ao lado da janela. Fui em direção a ela e sentei. O cara que me cumprimentou logo que cheguei à sala tratou logo de sentar em frente da minha carteira e começou a puxar assunto. Junto dele outros também vieram, deduzi que curiosos em saber quem eu era.

-Então Brian, de onde você é? – Perguntou ele.

-Sou de São Paulo, mudei para cá faz pouco tempo. – Respondi, com receio de que isso o encoraja-se a querer perguntar mais.

-Legal cara, mas o que te fez sair da terra da diversão e das mulheres gostosas para vir para a cidade de praias impróprias a maioria do ano? – Perguntou ele em um tom sarcástico.

-Eu vim ajudar meu tio por um tempo. – Decidi não iria dar mais detalhes. – Mas cara me desculpa eu não gosto de ficar falando muito da minha vida, não me leve a mal.

-Tudo bem cara relaxa, não está aqui quem perguntou. – Respondeu se afastando de onde estava sentado.
Senti que fui muito rude, não seria legal ficar isolado em um lugar que acabei de chegar.

Quando chegou a hora da saída eu chamei o Leonardo para deixar tudo em pratos limpos e amenizar a impressão que deixei.

- Leonardo pode vir aqui, por favor? – O chamei e todo mundo da sala olhou, curiosos com o que poderia querer com o cara.

-Então cara, quero pedir desculpas se pareci rude, a verdade é que não gosto muito de falar da minha vida particular. Mas quero ser seu amigo sim, vai ser legal. – continuei – Todos os amigos que tinha deixei em São Paulo. – Expliquei.

-Relaxa cara! Eu te entendo, não fiquei bolado não. – Disse apertando minha mão e dando um tapa nas minhas costas.

-Nós vamos nos divertir muito, amanha te apresento meu amigo Paulo. Ele não veio hoje, mas amanhã deve estar por ai. – Terminou.

Saí da sala, durante o trajeto eu vi a garota que tinha conversado na sala de musica, era o momento de eu usar minhas táticas para ter meu primeiro encontro nessa escola. Ela tinha se feito de difícil, mas dessa vez não escapava. Percebi que ela estava indo em direção ao corredor dos professores, tratei logo em segui-la. Tentei me manter afastado, ao observar percebi que ela entrou na biblioteca.
Eu me aproximei dela silenciosamente, ela estava distraída lendo um livro no corredor em frente à prateleira.

- Oi gatinha, me parece que iremos nos encontrar muitas vezes por essa escola, confesso que me deixa animado poder ver esse rosto lindo todos os dias. 

- Oi, você de novo? Acho que deixei claro que não existe nenhuma possibilidade de rolar algo romântico entre nós. – Respondeu ela rispidamente, mas eu percebi que sua respiração ficou ofegante, não conseguia me encarar, ela gostava de mim.
-E porque eu acho que você está mentindo? – questionei olhando para os olhos dela.

- Eu não estou mentindo é você que não se toca! – disse de forma ríspida. – me deixe em paz, licença que preciso ir. 

Eu bloqueei a passagem dela com o braço apoiado na prateleira de livros. Pude sentir sua respiração ficando cada vez mais ofegante. Olhei para ela, e me senti estranho, um nervosismo, meu coração acelerado, algo que nunca senti com mulher nenhuma. Ficamos imóveis olhando um para o outro, tive a impressão de o mundo ao nosso redor ter se silenciado, as vozes dos alunos nas mesas da biblioteca não existiam mais, e o tempo também se distanciou, parecia que estávamos suspensos ali parados nos encarando por horas.



Eu a beijei, ela se desvencilhou de mim e passou por debaixo do meu braço, eu fiquei imóvel sem entender o que era aquela sensação que tinha sentido, estava fora de cogitação eu estar nervoso. Eu sempre flertei com garotas e sempre tirei de letra, não seria diferente agora. Mas senti ao olhar nos olhos dela que já a conhecia há muito tempo, como poderia ser possível se eu nunca tinha encontrado com ela antes?
 


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OBSERVAÇÃO: Como ainda o livro está em processo de escrita, o texto acima pode ser alterado, sempre que isto acontecer deixarei sinalizado. O texto ainda não foi revisado por um profissional especializado, o que estou postando aqui é o manuscrito. Aceito sugestões e criticas, são muito bem vindas.
Os Capítulos serão postados Semanalmente, caso ocorra algum imprevisto eu aviso nos perfis oficiais.




Estava tudo pronto para meu primeiro dia de aula. Minha mochila tinha tudo do qual iria precisar, meu caderno, minha garrafa d’água – Não queria ficar pedindo para ir ao banheiro toda hora e correr o risco da turma toda ficar me encarando. – meu estojo de canetas esquisito frutacor, meu fone de ouvido e minha agenda. Uma agenda era essencial para mim, mesmo meu celular com esta função, preferia marcar meus compromissos à moda antiga. Tudo isso era o suficiente, parece pouca coisa, mas no primeiro dia de aula são distribuídos os livros didáticos que usaríamos durante o ano todo. Minha sorte era de que morava do outro lado da rua. Levar todo esse peso não seria nada fácil.

Ainda era 20h, o Domingo passou rápido. Minha madrinha veio nos visitar, o nome dela era Soraia. Ela era uma mulher muito culta, falava muito bem e era militante feminista de carteirinha, como ela mesma diz "totalmente desconstruída". Às vezes tinha a impressão que por causa disso, nenhum homem prestava para ela. Concordo que a mulher não pode ser submissa ao homem e precisa ter seus direitos e liberdades individuais respeitados. Mas as ideias dela sobre relacionamentos eram muito pessimistas para o meu gosto, necessariamente o casamento era uma prisão e o relacionamento um tormento.

Li uma vez em um site de relacionamento uma matéria que tratava desse assunto, a matéria trazia o dilema de ser feminista e se relacionar com os homens, segundo a matéria, em um relacionamento hétero, a ideia de que há uma submissão meio que pré-existente já está implícita desde o início. Além disso, a grande questão é que as mulheres desconstruídas, ao assumirem a posição de um relacionamento com homens, ou abrem mão de algo pelo qual defendem ao longo do relacionamento, ou precisam estar preparadas para passar o “rodo da desconstrução” diariamente. Seria nada mais e nada menos do que todos os dias você ir, pegar na mão do seu companheiro e desconstruí-lo pouco a pouco, uma porcentagem de cada vez, sabendo que aquela água que você está puxando com o rodo pode muito bem voltar e você terá que começar novamente, e as mulheres ao assumirem uma posição como essa em seus relacionamentos precisam estar dispostas não somente a se relacionar com um outro ser, mas ajudá-lo a compreender coisas simples como “não é dessa forma que as coisas devem ser feitas”, “essa atitude é abusiva”, “ao falar dessa forma você está ofendendo uma mulher”.

Eu concordo com muita coisa no qual a matéria tratava, mas acredito que o verdadeiro amor é algo que te faz pensar no bem estar do outro. Pode ser uma visão romântica minha sobre a vida, mas sei de histórias de tantos relacionamentos que duram décadas ou até a morte. Para algo durar assim, muita cumplicidade e entendimento existe. Muitas vezes nós é que plantamos a semente da discórdia e da desconfiança nas nossas vidas. Lembro-me de uma palavra que o padre na ocasião da missa de 7º dia do meu irmão disse:

“O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...”

                                                                                                         
1 Coríntios 13:4-7

O amor verdadeiro e puro não trás todas essas problematizações. Mas há algo que minha mãe sempre falou no qual concordo, muitas vezes nós só compreendemos algo quando vivemos na pele.
Minha mãe me contou que quando descobriu que meu irmão nasceria com Síndrome de Down durante o pré-natal, foi um verdadeiro impacto para ela. Ela trazia uma bagagem de preconceito da vida que era muito grande, pensou em abortar, pensou em abandonar meu irmão em um orfanato. Depois de muito questionar se deveria prosseguir ou não com a gravidez, ela decidiu tê-lo. Com o passar do tempo, o amor pelo meu irmão cresceu de um modo no qual a fez sentir um remorso enorme dos pensamentos que teve durante a gravidez. Através do meu irmão ela passou a entender que ser mãe de alguém tão especial, era uma benção transformadora, no qual a vida deu a oportunidade para que ela experimentasse e não um castigo.

Ele se foi, mas todo amor que ele deixou ficou. E esse amor foi capaz de mudar todo conceito que minha mãe tinha sobre pessoas com necessidades especiais. Ela precisou ter essa experiência de vida para aprender e entender. Hoje ela três vezes por mês, vai a uma instituição que cuida de pessoas com Síndrome de Down e oferece seus conhecimentos e experiência de vida de forma voluntária para outras mães de primeira viagem que hoje estão na mesma situação que ela esteve um dia. Muitas vezes eu a acompanho e me faz muito bem. Pensando em tudo isso, acredito que o que falta para minha madrinha é isso, viver um grande amor, somente ela vivenciando uma experiência assim ela poderá mudar de opinião.

Já passava das 22h e o sono pesando os olhos, precisava dormir. O dia seguinte me reservava fortes emoções. Geralmente em outras escolas o pessoal volta às aulas uma semana depois, a chamada “Esticadinha das Férias” devido ao feriado de Carnaval. Mas segundo minha mãe, no Cleóbulo ter quatro faltas já te credencia automaticamente a ter que fazer um trabalho de compensação, e sem compensar as faltas não é aprovado, portanto, ninguém queria correr o risco de passar as próximas férias fazendo trabalho de escola e de repetir um ano.

Coloquei meu celular para despertar às 06h da manhã, o horário de entrada era as 07h com tolerância de 10 minutos, seria mais do que suficiente para me arrumar e atravessar a Avenida. Enquanto regulava o alarme, uma notificação da Gabi no Whats’s App aparece.

Gabi / Pocahontas:
Amiga, já separei meu look pra amanhã. Tomara que tenha alguns gatinhos né?



Não sei se a Gabi estava indo para a escola ou para uma balada. Fui obrigada a fazer o papel de amiga chata e alertar.

Amiga, você não acha que é muito glamour para ir para a escola não?
Você leu a seção que trata sobre as vestimentas na sua ficha de matricula?
Era bom você ler...
 Gabi / Pocahontas:
Taaaaaaa! Vou ler sua estraga prazeres! ¬¬

Mesmo eu a contrariando, ela me agradeceria no futuro.

A ansiedade estava me deixando sem sono. Resolvi tentar ler algo até que o sono viesse. Ainda faltava muito para terminar de ler “Fallen”, e pensar que só era o primeiro livro de uma saga de mais quatro volumes. O habito de ler antes de dormir me proporcionava sonhos maravilhosos. Acordar para ir para a escola depois de sonhar beijando o Jeremy Irvine iria me fazer ter um dia realmente proveitoso. Comecei a ler e depois de pouco tempo o sono chegou, era hora de dormir, meus olhos pesavam.

Quando abri os olhos novamente já era 06h horas e o despertador tocava ao som de “Marry  you” do Bruno Mars, nada melhor do que acordar logo de manhã com uma musica de um cara que esta pedindo a mão da namorada em casamento. Se não fosse minha madrinha a me falar do que se tratava a musica, eu nunca saberia. São as famosas aleatoriedades de alguém que não sabe inglês como eu.

Depois de meu celular despertar pela terceira vez, levantei. Da janela dava para ver o céu de um completo azul, seria um dia ensolarado. Minha mãe já havia deixado a cafeteira pronta, já tinha água e pó de café colocado, meu trabalho era só apertar o botão. 

Enquanto arrumava a mesa do café da manhã, enfim minha Mãe aparece.

-Nossa, que milagre! Não precisei nem te acordar né? – Disse em tom debochado.

- Milagre por que, esqueceu que meu celular tem despertador? – Respondi.

- É mesmo, tinha me esquecido desse detalhe. – e continuou... – As meninas vão encontrar com você na porta da escola que horas? – Perguntou ela.

- Umas 06h50, as turmas nos quais iremos pertencer serão definidas na hora da entrada, estou torcendo para ficar junto com elas. Pelo que a Gabi me falou eles também vão entregar as chaves dos armários. – Respondi. 

Sabia que geralmente o primeiro dia de aula é meio que perdido. Tem apresentações dos professores e toda a burocracia de inicio das aulas.

- E os livros que vocês vão utilizar?

- A Gabi disse que já vão estar dentro dos armários, os nossos nomes já estarão neles. – Respondi. Nisso eu lembrei que foi meio inútil a minha preocupação de trazer um monte de livro na mochila outro dia. Com o armário eu poderia deixar na escola, até meus cadernos poderiam ficar lá.

- Essa escola é organizada mesmo, gostei! – comemorou ela.

-Mãe vou me trocar, já são 06h35.

-Vai, vou deixar R$20 na sua bolsa para você comer um lanche na cantina. Já estou indo trabalhar, nos vemos mais tarde.  – Informou. Não pretendia ficar comendo lanche da cantina, eu estava em forma e não queria estragar meus meses de Academia.

- Obrigada Mãe, te amo. – Respondi com um beijo no rosto. Da janela do meu quarto já conseguia ver alguns alunos aguardando na calçada a abertura dos portões. Tinha que me apressar, não queria chegar atrasada no primeiro dia.


Quando cheguei à frente da escola, o portão ainda estava fechado. Para não ficar parada ali atravessei a rua e sentei na mureta do Conjunto Residencial que se localizava logo em frente à Escola. Já estava lotado de gente, muito barulho. Todo mundo tinha algo para falar sobre as férias, e querendo ou não para muitos deles ali era o momento de reencontrar os amigos.

Quando faltavam cinco minutos para abrir o portão a Gabi e a Priscila chegaram. Conforme elas se aproximavam os olhares masculinos a seguiam com interesse.

- Oi amiga! Preparada para o primeiro dia de aula? Estou vendo que aqui o que não vai faltar é gato. Quem sabe você não desencalha! – Disse animada.

- Gabi meu objetivo aqui é estudar, não inventa. Estou ótima sozinha. E outra, não sou Baleia para desencalhar! – Respondi bufando. A Priscila logo se manifestou para apoiar o que a Gabi dizia.

- Bia estamos em uma nova escola, novos ares e gente nova. Não se feche para as possibilidades amiga! A Gabi esta certa! – Disse ela. A Priscila do contrário da Gabi estava mais comportada. Estava utilizando calça jeans e uma blusinha branca com estampa.

- Tudo bem, fazer o que. Vocês não tomam jeito mesmo né?

Depois que o portão abriu o pessoal começou a subir as escadas em direção às salas de aula. Na parede que ficava logo em frente da escadaria havia um mural, nele havia um aviso informando que os alunos novos deveriam se dirigir até a secretaria. Somente os que já eram alunos no ano anterior poderiam se dirigir as salas. Por exemplo, quem era da turma 1M5 automaticamente seria do 2M5, A letra “M” significava Manhã. Então, eu e as meninas nos dirigimos para a Secretaria. Ter que ir na Secretaria primeiro não me agradou muito, eu iria chegar na sala de aula atrasada, todo mundo assim que eu entrasse iria olhar para minha cara.

Chegando ao balcão uma mulher de cabelos loiros que aparentava ter uns quarenta anos realizava o atendimento. Atrás dela deu para ver a sala onde ficava a secretaria, era uma sala pequena; tinha alguns vasos de plantas, um relógio de parede - daqueles de lojas de móveis que as pessoas ganham de brinde. Havia também uma parede cheia de armários daqueles de arquivos e três mesas atrás do balcão, uma delas era ocupada por outra mulher, ela tinha o cabelo castanho encaracolado e usava óculos. As duas vestiam uma camisa com o emblema da escola, eram as letras C.A.D dentro de um circulo e por fora outro circulo contornando com o nome da escola completo em azul. O mesmo logotipo que veio na ficha de matricula.

A Loira olhou para mim.

- Posso Ajudá-la?

- Meu Nome é Beatriz Andrade – Informei-lhe.

- Ok, aguarde um momento – disse ela. E cavucou uma pilha instável de documentos na mesa até encontrar o que procurava. – Sua turma é a 2M3, aqui estão as chaves do seu armário, nele já estão seus livros didáticos, esses são seus horários de aula com o numero das salas. Avisei a Gabi e a Priscila que iria me adiantar e ir até os armários.

Quando estava subindo as escadas em direção ao segundo andar onde se localizavam os armários, um garoto magricela de origem oriental parou para falar comigo.

- Você é nova aqui, não é? - perguntou ele.

- Sim, eu vim do Francisco Meira na Zona Noroeste, me mudei recentemente para os prédios da Cohab.

- Qual sua turma?

Tive que olhar o papel que a moça da secretaria me deu.

- Hmmm, 2M3 e minha primeira aula é de Português com a professora Maria Rivonete.
Quando olhei para os armários, havia vários olhos curiosos.

- Então seremos colegas de classe, eu também sou do 2M3 – Sem dúvida uma super coincidência – Meu nome é Tae – acrescentou ele.

Eu sorri, insegura.

- Obrigada.

- Tae é um nome coreano né? – perguntei.

- Sim, significa “Aquele que é uma ótima pessoa”. Minha mãe é Coreana. – Respondeu ele. Eu estava impressionada que um descendente de Coreanos estudava na mesma escola que eu e ainda por cima foi a primeira pessoa com que eu falei.

- Nossa que coincidência, eu amo cultura coreana e ai eu chego aqui e logo você vem falar comigo.

-Que bom, então é sinal que vamos nos dar muito bem. Vamos subir a aula deve já ter começado. – informou apertando o passo.

Enquanto nos dirigíamos para a sala de aula, recebi uma mensagem da Priscila e da Gabi. Parece que adivinharam que éramos amigas, ficamos separadas uma das outras. A Gabi ficou no 2M5 e a Priscila no 2M2. Confesso que fiquei feliz com a noticia, nós já iríamos ficar juntas na hora do intervalo. Pelo menos na sala de aula eu poderia focar nos estudos e evitar chamar atenção para mim, a Gabi e a Priscila não me deixariam passar despercebida.

Quando chegamos à sala de aula a professora estava apresentando o cronograma do semestre. Ela nos viu na porta e pediu para que entrássemos. Sentei na segunda cadeira da fileira encostada na parede da janela e o Tae sentou logo a minha frente. Percebi todos os olhos novamente voltados para mim, fiquei morta de vergonha. Assim que ele sentamos a professora nos chamou.

- Vejo que temos carinha nova aqui, por favor, apresente-se para seus colegas. – Queria me enfiar em um buraco e ficar ali até a volta de Cristo.

- É necessário mesmo professora, tenho vergonha. – disse sussurrando.

- Claro que sim – e continuou... – levante-se. Disse ela. Atrás de mim, mais precisamente dos fundos da Sala escutava os gritos dos garotos.

-Vai lá gatinha, a gente quer te conhecer! Seja bem vinda. – Disse um deles aos risos.

Como era inútil eu protestar, levantei e me dirigi à frente. Enquanto isso ouvia assobios.

- Bom dia, Meu nome é Beatriz, tenho 18 anos e vim do Francisco Meira, me mudei faz pouco tempo. – disse. Tentei ser o mais breve e objetiva possível. Já estava constrangida demais.

Logo depois que me apresentei, a professora continuou explicando o cronograma do Semestre. Estudaríamos o Arcadismo, Romantismo em Portugal e grandes autores de fases românticas da literatura. Eu gostava de ler, mas os livros de autores do século XIX eram bem densos. Era necessária força de vontade para não dormir na terceira pagina.

Depois das aulas de Português, chegou a hora do intervalo. Um sinal que parecia uma ambulância tocou. Queria descer até a Biblioteca para conferir o acervo. Mandei mensagem para as meninas avisando, mas elas não quiseram me acompanhar. Então o Tae me acompanhou. Ele tinha livros que estavam com ele desde o ano passado, provavelmente teria uma punição por devolver atrasado, pelo menos um mês sem poder pegar qualquer livro da biblioteca.

Conforme eu ia me aproximando da biblioteca comecei a identificar um som de violão. Estava baixo, mas conseguia escutar os acordes perfeitamente.

- Você esta ouvindo esse som de violão Tae?

- Sim estou, deve estar vindo da sala de musica, fica la para frente no fim do corredor. – Respondeu ele.

- Mas hoje tem aula de Musica? – questionei.

-Que eu saiba a sala de musica só fica liberada na semana que vem. – respondeu ele.

Tentei não ligar para o som que escutava. Mas algo me atraia para saber quem estava tocando, era uma melodia linda e ao mesmo tempo melancólica.

-Tae me espera aqui, eu fiquei curiosa. Quero saber quem é que esta tocando.

- Tudo bem, não demora muito. Eu preciso entregar os livros, tem algumas pessoas na minha frente devo gastar a hora do intervalo toda pra fazer isso. – reclamou ele.

Depois que me despedi do Tae, caminhei em direção à sala de musica. Conforme me aproximava, o som ficava mais alto e nítido. Quando cheguei à porta, estava aberta somente uma fresta. Aproximei-me silenciosamente e vi a silhueta de um homem de costas. Estava sentado na beirada do palco virado para a janela, cabeça baixa. Os cabelos eram de um ruivo intenso, cintilavam com a luz do Sol que adentrava pela janela.

Percebendo minha presença ele olhou para trás, fiquei totalmente imóvel, totalmente inerte e hipnotizada, os olhos dele eram azuis e olhavam diretamente para dentro de mim. O rosto dele era absurdamente lindo, seus olhos semicerrados me fitavam com estranheza de cima abaixo junto de um leve sorriso no canto dos lábios.

Quem era esse homem?




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